Som do Desassossego by Genus 4585 Lyrics

Eu não me compreendo, o meu cérebro é tão complexo
Eu não me conheço quando vejo o meu reflexo
Nem sequer sei o que sinto, só sinto nas
Horas vagas
Porque eu vivo na mente e os sonhos não guardam mágoas
Sou uma alma que tem um corpo e sinto-me carregado
Não tenho massa cinzenta pa suportar este fardo
O corpo é limitado mas a mente não tem fim
Eu tou farto dessa imagem que todos guardam de mim
Sou despersonificado, daí versátil no verso
Porque eu não defendo nada, vivo noutro universo
Até sou um multiverso e daí eu me desdobro
Entropia aumenta sempre, sou melhor do que o que cobro
Nas águas do meu ser vai passar um tsunami
Vejo os neurónios a fugir destas casas de origami
Eu sou um mar ao contrário calmo à flor da pele
As ondas tão cá dentro, dão-me à vida um papel
Personagem principal, eu sou mesmo convincente
Devia ser personagem da peça do Gil Vicente
Porque eu tou a arder por dentro mas a pedra não fumega
Este fogo não consome, sou uma excepção à regra
Enquanto me queima a folha fico a pairar nas barras
Espetadas na fundação da minha casa de palavras
Este filtro nunca queima, fica me a afagar os olhos
Porque quis dar nas vistas, tu plantas o que colhes
Sempre me dei às cegueiras, daltonismo e miopia
Esta não é dos olhos mas afetou-me o que via
O passado é uma utopia, coisas da nostalgia
A vida correu depressa e fugiu quando eu cuspia
Esta noite tá cerrada mas ainda são 3 da tarde
O sol nunca nasceu nas ruas desta cidade
Aqui não brilham estrelas o negrume é eterno
E mesmo que nunca chova vai ser pra sempre inverno
Só chove no caderno, a alma fica molhada
Quando a inspiração se vem, fica a letra borratada
É só uma questão de estética, mas quando tudo é negro
É só uma porção de verso dum escuro desassossego